terça-feira, novembro 28, 2006

Tessitura

















Na pele, melhor papel
A palavra é esmerilada
Livre do peso bruto da pedra
Tem outro viço, sentido de água

Fecho os olhos suave[mente]
Tacteio as folhas leve[mente]
onde insularizam meus dedos
uma sede de incendiados mares

Viajo na textura da pele - arrepio

Arde-me uma auréola de nume
Em meu pélago de rubros absintos

Fecho o livro vaga[mente]
Resta-me o acto em que me completo
Impulso de asa, simples vaga-lume



segunda-feira, novembro 20, 2006

Amaranto


















Murmúrios floridos de aura macia
abrem-se à volúpia de ser do instante
As mãos desfiam as heras do tempo
e os olhos velam o precipício das águas

Maviosas vertigens de cristal vermelho
escuto-lhes o silêncio, inteiro
ou não fosse o respirar a invasão do céu
e o suspiro o terramoto das verdades mais íntimas

Toco o movimento subtil das palavras e dos sentidos
e os contornos silábicos dos esboços

Nocturno ardor em bocas de aurora
Como seiva escorrendo pelas pétalas das açucenas

Bebo os silfos das folhas quentes de perfumes

Brilha súbita centelha
Desponta o sol numa asa vermelha




segunda-feira, novembro 13, 2006

Sensório













No seio onde o desejo estua
Adentro-me…

No cálice, a gota de sangue
Lúbrica valsando no leito de vidro
No meio da noite emplumada
A língua sibilina seduzindo o intento
Os lábios que os lábios acariciam
Desfilando vagos, procurando regatos
Abrem-se rosáceos, sedentos, molhados
E os dedos ávidos lavrando incêndios
Pintam acres sóis na pele que inflama
O desejo na respiração ofegante e plena
Em rubra labareda sulca sábios veios
Num sopro solta-se a corda dum canto
Bocas incendiadas, puros diademas
Nos gemidos da noite fecundada

Ferida a noite, treva aveludada
Em êxtase suave, quase adormecida
Silencio a chama que incandesce por dentro
Queimo o fogo com as pontas dos dedos

quarta-feira, novembro 08, 2006

Outonal
















Como um zéfiro na madrugada
Que passa lento na hora transviada
Dríade diáfana no adejar de asas
A céu aberto expõe meu lado de dentro

Junto às aras do clarão dos círios
E como que ouvindo a música dolente
Destece a chuva e seus cabelos de frio
E colhe o lírio da inocência perdida

Bocas de rio afagam o gozo da terra em cio
Prendem-me em tranças a meia lua
Enrolam-me em neblinas semi nua

Diluo meu corpo em meio do murtal virente
Gotas de orvalho sob o mistral da finitude
Pousam no sideral da incomplenitude


quinta-feira, novembro 02, 2006

Incandescentia












Quando a noite cai e o vento sopra
A pele em poesia desabrocha
Mergulha lenta em desvarios
Delineia no corpo versos de arrepios

E se o vento sopra sussurrante
A pele ansiosa espera suplicante
O toque redutor da carícia felina
Que inebria o corpo da poesia

Um fogo serpenteia faminto
A boca humedece a voz num grito
A pele se rende à volúpia fluindo

E como um vulcão pedindo vazão
Lânguida geme e a lava derrama
Sangrando a brancura da inspiração