sábado, agosto 30, 2008

(...)


















Deixo que as mãos pousem em orvalho
O corpo inteiro decantando o movimento
deixa-se cair sobre uma serafina silenciosa
que com a sua língua escarlate
abrasa as palavras
e as queima antes de serem

Mesmo que a luz se apague
Um dia talvez
O torso lembrando o respirar da vela
inflame as varandas por dentro viradas ao centro
A noite possa ter portas e o silêncio encontre
o seu bronze num poente em brasa
Os dedos teçam a voz que me fecunde o ventre
E o fósforo dos olhos esverdeie
enquanto as pálpebras bebendo de um só trago
me devolvem os sonhos que rebentam como brotos
e serenamente se abrem em floradas

Foto de Luís Mendonça