sexta-feira, outubro 26, 2007

Reversus

















Pousar o dizer no leito
Cultivar um bosque na córnea do texto
De súbito o olhar incendeia e o que deseja
É esta candeia que bordeja a cercadura do verbo



terça-feira, outubro 23, 2007

À porta do sol

















Deito a tua sede em meus lábios
Em minha boca dorme
Invento canteiros nos cílios das águas
Beijam-se a folha e o rocio
Acendo o verso de mil veias
Na varanda do corpo, o plantio
Um sol alimentando o ventre
Meu avesso recria
Brilha súbita centelha
O Sol numa asa vermelha

domingo, outubro 14, 2007

Húmus












Dai-me um torso dobrado pela música

Um diadema em lua colado na lapela dos lábios

Um ligeiro pescoço de planta

Até que a boca incendeie a minha voz

Mordida por flores de água

segunda-feira, outubro 01, 2007

Memento
















Na íris do tempo meu corpo é catavento penteado pelo vento

Fecho os olhos
até que brote de minhas pálpebras um provedor de sóis
e o alfabeto ondule na fissura dos lábios
nos beijos escondidos no pescoço dos pássaros
no crispar de dedos ávidos de murmúrios

Ecuto-me num silêncio que me dou
até que minha boca construa a chuva
e a voz percorra o pavio do verso

Deixo que o tacto do sol pinte a pálpebra dos olhos de água
e o corpo seja um estuário de palavras enlaçadas
Palimpsesto onde repousa o mundo