quinta-feira, setembro 28, 2006

Extravio de noites


















No sono branco da neblina
Em silêncio rasgo o útero da madrugada
O pensamento como um ferro em brasa
Flameja debruado em bruma viva

Bordo flores nos canteiros da volúpia
Cheiros mornos de seiva que transpira
Escorrem líquidos como asas famintas
Exploram passagens adormecidas

Bocas diluídas na luxúria de suas afluências
Vorazes aumentam sua cadência
Polpas de dedos em veludo esculpidas
Desvario, esmero de ânsias enlouquecidas

A fome da língua por fim saciada
A lonjura apeada na pele nua e já fria
A sede do desejo não míngua
Apenas suspira e fica adiada

terça-feira, setembro 05, 2006

Génese













No húmus do pensamento há sexos entrelaçados
Suspiram as folhas de pele macia
Que os versos acariciam com tinta

Os lábios das margens molham-se de delírios
Que germinam no espaldar de dedos furtivos
Navego em sublimes linhas
Em águas turvas e cristalinas
Os cílios olham a imensidão
Enquanto o corpo repousa o silêncio do cio
A alma desfalece subtilmente ao toque das mãos
Derramando o vinho no desalinho da doce visão
Transmuto-me nos dedos com que me pinto
Pelo tacto me conheço
Lava lenta, incêndio
Que se impele silente e se revela inclemente
Combustão do pensamento
Embriagado
É plena a satisfação
O íntimo entra em comoção
Química perfeita no delírio do momento infindo
…o clima continua noite adentro